nas tribos da cidade '

-

29/07/2010

                                                                                             
                                                                                           “ Este é o meu respirar”


Pra quem ainda não sabe ; atualmente sou professora  de língua Portuguesa , internacional,   leciono  numa  escola técnica  de turismo e Hortelaria  Balindoo Paradiso  ,  no qual treinam indonésios para trabalharem  em navios de cruzeiros na América Latina , Caribe , Estados Unidos , Europa e África  do Sul . Ao total são dez navios  do MSC.
Os alunos . Eu já perdi a conta de quantos. Muitos. Trabalham  de seis a dois anos nos navios . Voltam de férias pra casa de três a seis meses. Neste período são treinados . Estudam inglês , italiano , português , russo e alemão. Os garçons tem aulas de restaurante os camareiros de quarto os zeladores de limpeza os cozinheiros e assim vai ...
No litoral do Brasil , quase sempre , é a costa que tem mais navios do MSC. No porto de Santos e Rio de Janeiro. A causa é que a clientela brasileira é boa.  Somos festeiros e queremos aproveitar tudo. 
Os camareiros falam que gostam muito de trabalhar no Brasil :  - Os brasileiros voltam de manhã da  festa  pro quarto. Acordam almoçam e festa de novo. Não reclamam de nada não pedem nada. 
Os garçons também  gostam de trabalhar no Brasil. Dizem que colocam as comidas na mesa os brasileiros comem;  pronto e  acabo.
Os garçons e garçonetes do Bar . Não.  Não gostam de trabalhar no Brasil. Reclamam. Como reclamam... Professora!  brasileiro não dorme.  O Bar não fecha Eles ficam até de  manhã ... Nós não ganhamos comissão. Minhas pernas e pés doem muito... Eu gosto de Trabalhar na Europa lá os passageiros  são Senhores ficam lendo e vão dormi cedo ; disse uma aluna.  O Bar fecha cedo ; -  fiquei sabendo  porque no Brasil tem  de  cinco  navios e na  Itália  tres .
 Já  os camareiros não gostam de trabalhar na Europa : - Porque   eles ficam muito no quarto ,  implicam com tudo e não param de pedir coisas . Quase todos não gostam de trabalhar onde  tem alemão e russo.



O governo do Brasil exige que 40% dos trabalhadores do navio , na costa do Brasil ,  sejam  brasileiros  e que  falem  português. Os cruzeiros são  curtos de santos até o Rio de Janeiro , da Bahia até Santos  , de Santos até Bahia. Sobe e Desce . Desce e sobe.
 De uma semana da Bahia até a Argentina. De quinze dias  atravessa o atlântico para a Itália.
Tem navio que tem quinze andares numa extensão de perder de vista. São muitas piscina , bares , discotecas , academia , saunas, biblioteca , restaurantes , Buffet  etc ...
Meus alunos dizem que não dá pra conhecer o navio todo. 


Muitos alunos  já foram trabalhar no Brasil. Quando ficam sabendo que tem professora do Brasil  ficam contentes  e gastam  o português comigo.  Fazem perguntas e mais perguntas. Aqui vai umas.  Sendo que algumas  terei  que explicar o contexto cultural para que entenda  o motivo delas.

Aluno  ;  - O que significa Filho da Puta?
Professora: -  Quem te falou isto?
Aluno: Os garçons brasileiros. Quando cai alguma coisa ou quando  algo errado acontece.

Aluno : -  Porque os brasileiros gostam tanto de ficar bebados?
Professora :  (?) 

Aluno : - Porque os homens na Bahia fazem xixi na rua? Fica muito fidido!
Professora: - Por que são maus educados.

Aluno: - Porque no carnaval todo mundo coloca roupa curta e vai dançar na rua?
Professora : -  (?) Por que o ato de vestir roupas curtas e dançar na rua é Carnaval .
Eles não entendem . Nem eu. Difiícil explicar algo que não se entende. 

Aluno : -  Porque os brasileiros chamam os garçons igual cachorro e gato?
Professora : Costume . Mas é feio.

Aluno:  - Porque  os brasileiros não gostam de muitas brincadeiras?
Explicação cultural : Os balineses  , para nós , são repetitivos. Eles falam a mesma coisa fazem a mesma brincadeira  a mesma piada .  Todos . Sempre! Haja paciência.
Então brincam com os  brasileiros . Eles aceitam. Duas. Três ... Ai  já viu.
Professora: - Por que  brincadeiras repetitivas se tornam sérias.

Alunos: - Porque os brasileiros não gostam que  peguem neles  ?
Explicação cultural  : Os homens  , aqui, é de muita amizade. Eles andam abraçados , de mãos dadas. Sempre estão se tocando. Nas motos andam coladinhos. Os latinos , aqui , ficam de cabelo em pé.
Então eles  tendem  a  se comportar assim com os  amigos brasileiros , na certa , os indonésios levam bronca! Tipo ; Tira a   de  mão de  mim.
Professora  : No Brasil homem não fica tocando homem.
Aluno: - Porque?
Professora : -  Por que  entendemos este comportamento como homossexualismo.
Os olhos se espantam.  E dizem :  - Aqui não tem nenhum problema.



Quando leciono para classe que ainda não foi para o Brasil digo sempre. Não  fiquem tocando  nos brasileiros. E vem as perguntas...
Apesar dos apesares. Existe uma simpatia , grande,  entre os indonésios e brasileiros , por isto eles aprendem o português rápido. 
Sempre  me falam , com orgulho que tem amigos e amigas brasileiras. Mostram fotos e imitam os amigos brasileiros dançando bebados  na festa. 
Dizem amigos e amigas porque  em Bali homem , quase sempre , não tem amizade com mulher. O relacionamento entre eles é sexual.
Por isto  quando eles vêem   um homem e mulher juntos logo perguntam : - E seu namorado? Não adianta dizer que não. Não cabe na cabeça deles  amizade entre homem e mulher.
Então meus alunos reforçam  , sem eu perguntar : Verdade! Eu tenho amiga brasileira! Não  é namorada é amiga.

O caso é tão sério que em casa os irmãos são separados das irmãs. Uma vez um aluno , todo encantado , me disse : -  Professora!  No Brasil irmão  sai com a  irmã.
Sempre dizem que as mulheres brasileiras são lindas. Comentam que  na Europa em  outros  continentes tem  mas são  poucas , é as que são  ; são ricas metidas. No Brasil tem mulher bonita de camareira, de cozinheira   , de zeladora , de garçonete na recepção...  Eles dizem : - Muitas meninas bonitas! Como é bom trabalhar no Brasil ! Sonham ter uma namorada brasileira. Geralmente , no navio , eles tem.
No mês de setembro fará um ano sou professora internacional.



Nenhum comentário:

Postar um comentário