" Em todo tempo és bom "
No meio do mundo. No marco zero . Na linha imaginária do Equador que divide o mundo em dois hemisférios. Cá estou : Amapá. Sentindo os ares do Norte vindo do Rio Amazonas.
Quando vejo o Rio todo marrom. Meus olhos se enchem de saudades do azul do oceano Indico. Canto como Canta Milton Nascimento :
tua saudade corta
Como aço de navaia
O coração fica aflito
Bate uma, a outra faia
Os óio se enche d`água
Que até a vista se atrapaia, ai, ai, ai
Vejo coqueiros aqui lembro dos coqueiros de lá. Os olhos fixa ; pisca : paraliza o instante presente cola no passado e fica um só. Mas não é. Por agora não tem nada a fazer… Me debato dentro de mim e me contenho. Que venha a esperança…
Fui. Na casa do Tio Sérgio que fica no Rio Amazonas indo pra Belém na curva do Camarão na ilha do Marajó no Pará. No barco de colore de redes de criançada pra todos os lados. O motor rasga as águas. Saímos às 6 e meia da tarde chegamos às 3 da manhã
Nas águas escuras o barco para no meio do Rio na frente da casa do tio. O barco diminui a velocidade o tripulante ajeita a vuadeira ( barco pequeno com motor ) . Tem que descer escalando o navio até a vuadeira que está grudada do lado . Leva a gente do meio do rio de madrugada até a casa do Tio.
Quando chega tem que escalar a ponte pra subir. Na ponte andando a luz de lanterna de celular. Entra na casa . As redes. Dormir. Amanheceu.
A porta aberta apresenta o amanhecer do rio . Calmo. O sol vai se firmando . De quando em quando atravessam no céu os Macaranãs (aves) gritando . As águas marrom do rio vão ficando espelho. Espelho do céu. Fica azul.
Sinto cheiro de café. Ouço o rádio a pilha noticiando. Viro. Tio , caseiro e filho sentados na mesa: - Ketulim dormiu bem? Vem tomar um cafezinho. Fico dividida entre saciar os olhos ; o amanhecer do rio. Ou saciar o cheiro ; do gosto do café.
A estrela é a cachorra . Branca , magra. Não dão comida pra cachorro . Pensam que ele caça. O filho Leonardo de 2 anos.
O dia inteiro Estrela e Leonardo brigam. Parece irmãos . Ele puxa as orelhas dela com força ela mordisca o braço dele até ele solta. O menino chora mas não desiste pega garrafa de plástico bate nela . Ela faz que vai e volta abaixa mordisca o pé do menino puxa o calção dele. Neste pé de briga vai o dia todo.
E dia de missa. Fui convidada. Oito e meia todo mundo pronto. A vuadeira também. Fomos. Os caseiros e filho. O Tio não. Fala fazendo graça que a Ketulim é mulcumana , hindu , crente e católica . Onde ela vai ela reza.
Atravessa o rio chega na casa da mãe dela sogra dele (caseiros) . Ela e duas crianças vão também. Agora somos em sete na vuadeira. Chegamos. Um lugar fantasma abandonado .
A Dona me disse que outrora forá uma vila linda e alegre. Com muitos trabalhos. Mas o dono do lugar o Senhor Alvares Mendes morreu. A família nunca quis saber. Nem veio ver os terrenos pra vender.
Eles não sabem o que fazer. Tem receio de arrumar as coisas e a familia vir e tomar. A Dona com pesar nos olhos fala que é sempre assim. O pai constroí na beira do Rio Amazonas; - rio é rico : tem peixe , camarão , açaí e Madeira.
Contudo a vida é de ribeirinho. Os filhos dos donos não querem saber. Nem o padre quer saber . Ele vem uma vez por ano no mês de outubro. Batiza os meninos , casa os pombinhos , faz primeira comunhão , abençoa e vai.
A missa é na escola. De um comodo só. A comunidade está se organizando para reformar a igreja de São Cristovão. Está foi a terceira missa depois de anos. O dirigente toma conta das missas. Simpático de boas palavras me apresenta e pede pra eu ler a primeira leitura do folheto. Atos dos apóstolos capítulo 8.
Depois outra leu a segunda leitura e outra a terceira leitura. O dirigente comentou a primeira leitura . Dizendo que assim como Deus enviou Felipe a Samaria ele enviaria pessoas até eles . Pessoas que se faça como os pobres e ensinem valores assim como Jesus fez.
Afirmou que Deus tinha me enviado até eles , porque na missa quase não tem gente que sabe ler. Convida a todos para agradeçer a Deus por minha presença.Cantam o hino da Familia:
Que nenhuma família comece em qualquer de repente. Que nenhuma família termine por falta de amor. Que o casal seja um para o outro de corpo e de mente. E que nada no mundo separe um casal sonhador . Que nenhuma família se abrigue debaixo da ponte. Que ninguém os obrigue a viver sem nenhum horizonte. Que eles vivam do ontem , no hoje e em função de um depois . Que a família comece e termine aonde vai. E que o homem carregue no ombro a graça de um pai. Que a mulher seja um céu de ternura , aconchego e calor. E que os filhos conheçam a força que brota o amor.
Abençoa, senhor as famílias . Amem.
Abençoa , senhor, a minha também !
Que o marido e mulher tenham a força de amar sem medida. Que ninguém vai dormir sem pedir ou dar perdão . Que as crianças aprendam no colo o sentido da vida. Que a família celebre a partilha do abraço e do pão . Que o marido e mulher não se traiam e nem traiam seus filhos. Que o ciúmes não mate a certeza do amor entre os dois. Que no firmamento a estrela que tiver mais brilho. Seja firme esperança de um céu aqui mesmo depois.
Mas uma leitura. A criançada anda pra crá pra lá o dirigente não se incomoda. Olha alguém lá fora comenta com os participantes e anuncia a música para a oferta. Cantam:
Sabes , Senhor, e que temos tão pouco pra dar,
Mas este pouco , nos queremos com os irmãos compartilhar.
Queremos nesta hora diante dos irmãos comprometer a vida , buscando a união . Sabemos que é difícil os bens compartilhar , mas com tua graça , Senhor , queremos dar .
Eu vi aqui nesta beira de rio. Para os ribeirinhos não falta o que comer. Eles comem o que a terra dá . Muito açaí . As crianças adoram. E saudável rico em ferro.
Eles comem o que o rio dá : peixes e camarão. Além. Criam porcos , patos e caçam. Perguntei pra meu tio se era só nesta beira do rio que era assim . Ele disse que é assim tudo parecido.
São bonitos . Índios misturados com Europeus : franceses , holandeses e portugueses. Gente mansa , hospitaleiros , cordiais. O que falta na beira do rio é infra-estrutura e educação.
O governo não dá assistência para os ribeirinhos e apesar do salário , professores não querem viver na beira do rio. Eles sabem disto. Por isto quando vem pessoas querendo construir sonhos na beira do rio como meu tio . Eles se alegram muito.
Meu tio me convida para eu dar aulas pros meninos na casa dele . Tem até um barco pra buscar as crianças ; afirma.
Eu estarei com voçê e a protegerei em todos os lugares onde voçê for. E farei com que voçê volte para esta terra. Eu não o abandonarei até que cumpra tudo o que eu prometi. Gn 28 v 15
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